quinta-feira, 11 de junho de 2009

Da scriptosfera aos nossos dias

À medida que o Homem foi evoluindo nas suas necessidades, tais como comunicar à distância, teve de desenvolver técnicas de linguagem e descobrir novos suportes que permitissem a materialização do som. A descoberta da escrita (700 A.C.) –scriptosfera - permitiu assim que se conhecessem experiências de pessoas de outros espaços e tempos. Mas no início, a utilização de técnicas morosas (reprodução manual) e de elevados custos (papel) sendo pouco evoluídas, não permitia senão a uma elite o acesso ao saber (começa aqui o conceito de info-exclusão).
É então que no séc. XV com a abundância de papel e com a mecanização, surge a imprensa de Gutenberg, amplificando-se o poder da escrita. A Galáxia de Gutenberg, ao estabelecer as bases tecnológicas para a materialização e aplicação da informação, permitiu a passagem de uma cultura e educação de elite, para uma de massas, abrindo assim as portas a uma transformação social com repercussões incríveis. É o início do fim de uma primeira vaga que durou 10.000 anos...
A Revolução Industrial, os progressos científicos, o fomento de investigação tecnológica e o crescimento económico que daí derivaram, levaram a uma nova fase de mecanização na qual as máquinas praticamente substituíram o Homem na realização de muitas tarefas (tecnosfera). Isto conduziu ao surgimento da Galáxia de Marconi (electricidade) fazendo com que a comunicação ganhasse um vasto campo de expansão através da rádio, da imagem cinematográfica e televisiva.Com o aparecimento dos mass-media entrava-se na era da comunicação de massas: o Homem dispunha não só da linguagem das palavras (oral e escrita) mas tinha também a possibilidade de se expressar através da linguagem audio-scripto-visual.
Inicia assim a “Era do Vazio” e começava-se a perceber que o exagero da submissão à tecnologia não era resposta. Nesta época “tecnizada”, da interdependência da aldeia tribal, em que a Humanidade havia passado para uma Aldeia Global, vislumbrava-se o início da 3ª vaga... Com o aparecimento do computador surge a possibilidade de integrar o som, a imagem e a palavra num mesmo suporte, processando maiores quantidades de informação e mais rapidamente; o que marca o advento de uma nova era comunicativa: a Galáxia de Turing. De uma linguagem analógica, informação difundida passamos para uma linguagem digital (infosfera).
Surge então a inteligência artificial (1956/8) - que emergira de vários campos como a filosofia, matemática, psicologia e neurologia - gerando muita controvérsia, (na medida em que a inteligência é uma das características que define um ser humano), surgem também os robots para substituir o Homem nas tarefas repetitivas e monótonas.
Eis então que a evolução tecnológica verificada em diversas áreas, permite o aparecimento de uma nova tecnologia - a Realidade Virtual, “também designada de Ambientes Sintéticos, Ciber-espaço, Realidade Artificial, Tecnologia de Simulação, etc”. Esta nova tecnologia, incorpora três conceitos: “visualização (referindo-se a todos os outputs que o computador pode gerar; gráficos, audio ou outras sensações), manipulação (o utilizador pode manipular directamente o mundo virtual e os objectos nele contidos) e interacção (é essencial que a interacção com todo o mundo seja feita em tempo real, ou então, muito próximo deste ideal). Pode assim ser definida como um “sistema que permite a um ou mais utilizadores movimentarem-se ou reagirem num ambiente simulado pelo computador (3D).
No entanto, mesmo sendo impulsionada pela indústria e pelo entretenimento, esta área possui um grande potencial educativo, e desde que correctamente utilizada, poderá tornar-se num instrumento de ensino/aprendizagem versátil e de grande eficácia. Há que ter consciência que a aceleração da evolução é cada vez mais rápida e intensa e que a mudança e os avanços tecnológicos são inevitáveis, interferem e alteram a nossa vida.
A Escola deve educar para a mudança, tem de preparar para o futuro através de uma educação permanente em que se forme as pessoas para a sociedade em que se vão inserir: uma sociedade altamente tecnológica; para que essas pessoas possam descodificar todos os sistemas de linguagem, de comunicação e não se tornem info-excluídas, oprimidas.
Com o advento da internet e com a sua constante divulgação e facilidade de acesso, não sendo necessário despender muitos recursos para se poder aceder, muitas instituições e empresas viram-na como um excelente meio de fornecer formação sem grandes investimentos, com a vantagem de não estar restringido a uma dada localização geográfica. Assim pessoas de todo o mundo, por mais remota que seja a sua localização, já não estão privadas do acesso à formação. Várias foram as instituições, que não se querendo atrasar nesta nova vaga das tecnologias de informação, lançaram mãos à obra, começando a investir seriamente neste novo tipo de formação.
Se Educar é formar e preparar para o futuro, proporcionando aos jovens, quer a nível profissional quer a nível social e humano, as ferramentas que lhes permitam descobrir o seu caminho e construírem o seu próprio futuro, o próximo passo poderá ser os mundos virtuais, já que nessas realidades simuladas, os alunos poderão descobrir de uma forma activa e divertida, os conhecimentos anteriormente transmitidos unicamente pelo professor.
Isto consegue-se porque a imersão no mundo virtual (proporcionando o contacto directo com objectos, ideias e conceitos) não apenas facilita a aprendizagem (apreende-se e aprende-se melhor porque se vai vendo e ouvindo), mas permite ao aluno descobrir por si, e aprender construindo o seu conhecimento numa realidade virtual experimentada, com base nas sensações por ele percepcionadas.
Deste modo, a aprendizagem realizada através da vivência pessoal do aluno, da sua experiência em primeira mão, torna-se mais viva, rica e variada e ao mesmo tempo mais duradoura já que, constituindo uma experiência pessoal, dificilmente será esquecida.
Num mundo virtual os alunos vêem, sentem, mexem, manipulam e, sobretudo entusiasmam-se, empenhando-se assim mais na aprendizagem. Por outro lado, a realidade virtual possibilitando a reconstituição e a criação de mundos onde nada é impossível e os limites são os da imaginação do seu criador, também incentiva a criatividade.
O professor torna-se, mais que o sábio, um guia para os seus alunos, um colega, ele é quem facilita a aprendizagem dos alunos, um igual que se coloca ao lado dos seus educandos, trabalhando com eles, sentindo as mesmas dificuldades e alegrias, triunfos e fracassos. Como em muitos outros domínios, inovação não significa necessariamente, substituição do antigo pelo novo. A Realidade Virtual, como nova forma de Comunicação, não irá substituir a tecnologia já existente mas sim complementá-la.
O caminho para uma sociedade melhor é confiar na tecnologia, mantendo um espírito crítico e de reflexão bio-ético relativamente à sua utilização. Deste modo há que educar as pessoas no sentido de adquirirem uma consciência reflexiva sobre a dimensão ética da tecnologia, pois “se soubermos utilizar a nossa sabedoria, em vez da nossa ignorância, esta tecnologia (a realidade virtual) servirá para libertar a mente humana e não escravizá-la”.

BIBLIOGRAFIA:
BERTRAND, Y. & VALOIS, P. (1994). Paradigmas Educacionais: Escola e Sociedades. Lisboa: Instituto Piaget.
Enciclopédia Multimédia Encarta 98.


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